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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Olhar atento e Atitude de uma Educadora modifica comportamentos

Relato da professora de educação infantil  de Ourinhos, Mariza Paula Lima Mamud mostra que é possível modificar para melhor os ambientes escolares  
Infelizmente o vírus do racismo ainda existe. Não pensei que o encontraria entre crianças tão pequenas quanto meus alunos (crianças de 4 e 5 anos) da Educação Infantil. No início do ano percebi, ainda que de maneira muito sutil, que algumas meninas discriminavam Maria (nome fictício), porque era negra.

No faz de conta, a ela nunca era dado o direito de ser a mamãe...  sempre ficava “ao redor “da brincadeira e, somente com minha intervenção, fingindo não entender o motivo, era inserida no grupo. Claro que não era a mesma coisa, mas não sabia como fazer melhor.
Numa atividade que fiz chamada álbum da sala (eles deveriam desenhar a cada dia um amigo e, no final levar aos pais para “apresentar” seus amigos a eles), ficou claro que precisava criar estratégias para lidar com essa situação. Uma das meninas desenhou Maria com giz preto e TUDO o mais também: árvores, sol, nuvens, flores, borboletas, etc... Quando questionei o motivo de não usar giz colorido, como era seu costume, ela disse que era porque ela era preta! Infelizmente como ela era líder, muitas fizeram o mesmo.
No parque, até um menino da outra sala se referiu a Maria como “aquela marronzinha da sua sala” e olha que a escola é pequena e todos se conhecem pelo nome.
Quando vi o resultado do concurso Miss Universo, acendeu uma luz no fim do túnel, ela é negra e linda, tanto que ganhou entre 88 finalistas! Levei a reportagem na sala e li para eles sem mostrar a foto. Depois perguntei como acharam que era a escolhida. A maioria disse que ela devia ter cabelo comprido, e devia ser loira! Só então mostrei a foto e eles ficaram um bom tempo calados, eu conseguia sentir o desconforto, principalmente das meninas... Então perguntei o que acharam dela e a maioria disse que ela bonita, até que um menino disse: se parece com Maria (fiquei aliviada de não precisar induzir isso, pois era meu objetivo fazê-lo), os olhos dela brilharam e respirou fundo quando eu disse que também havia achado. Fomos então à cozinha, à secretaria, à outra sala mostrando a reportagem e perguntando se achavam que a miss se parecia com Maria-todos concordavam.
Contei mais uma vez a história “Menina bonita do laço de fita” com dois ilustradores diferentes e também mostrei a eles a versão animada (produzida pela Petrobrás), no computador da escola. Acho que agora eles conseguiram ver com outros olhos a beleza do livro.
Colei a reportagem numa cartolina e escrevemos um texto coletivo, onde fui a escriba, para deixar para a sala da manhã também conhecer a miss e saber que ela se parece com a nossa Maria. Acho que essa miss não tem ideia de que mudou a vida de uma garotinha de 4 anos, que mora no interior do Brasil...

Um comentário:

  1. A maioria das pessoas que tive a oportunidade de mostrar essa história ficou em silêncio e algumas tiveram a coragem de dizer que também participaram de situações de preconceito explícito, inúmeras vezes. Na verdade, o exemplo dado convida todos nós a revermos nossos conceitos e preconceitos, além de nos projetar para um mundo novo, sem discriminações, sem verdades absolutas.

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